SOBRE O NÃO SER OU SOBRE A NATUREZA - GÓRGIAS

Em primeiro lugar: nada é; em segundo, mesmo que algo fosse, não seria compreensível ao homem; em terceiro lugar, mesmo que houvesse algo compreensível, não seria comunicável e explicável aos outros.
Que nada é, demonstro-o desta forma: se de fato algo existe, ou é ser ou é não- -ser, ou é ser e não-ser ao mesmo tempo.
Mas o não-ser não existe porque se o não-ser existisse, ele seria e não seria ao mesmo tempo.
De fato, pensado como não-ser, não existe, mas enquanto existente exatamente como não-ser, existe.
Mas é completamente absurdo que algo seja e não seja ao mesmo tempo; portanto, o não-ser não existe. Nem sequer o ser existe.
Se de fato o ser existisse, ou é eterno ou é gerado, ou é eterno e gerado ao mesmo tempo.
Se o ser é eterno não tem princípio algum; não tendo princípio, é ilimitado; se é ilimitado, não está em lugar algum; se não está em lugar algum, não existe.
O ser, porém, não pode sequer ter nascido.
Se de fato nasceu, ou nasceu do ser ou do não-ser; mas não nasceu do ser se de fato existe; como ser não pode ter nascido, mas existe desde sempre.
E não nasceu nem sequer do não-ser, porque o não-ser não pode gerar coisa alguma; portanto, o ser nem é gerado e nem pode ser as duas coisas ao mesmo tempo, ou seja, eterno e gerado, pois as duas coisas se excluem mutuamente;
portanto, se o ser não é eterno nem gerado nem todas as duas coisas ao mesmo tempo, ele não existe.

GÓRGIAS



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