RESUMO DO LIVRO DA ARTE DE LER - HUGO DE SÃO VITOR - CAPITÚLOS II, III, V E VI
O primeiro capítulo do segundo livro é dedicado a diferença das artes. Hugo começa explicando as diversas definições para a filosofia, sendo a primeira, a etimológica, derivada do termo grego que significa “amor à filosofia”. Sua segunda definição é a filosofia como fundamento de todas as artes, ou em suas palavras, a “filosofia é a arte das artes e a disciplina das disciplinas”. Em seguida define como a “meditação da morte”, e como a disciplina que investiga com provas todas as coisas. Para fechar o tópico o autor divide a filosofia em teórica, prática, mecânica e lógica, divisão que abarca todo o saber.
Dedicado a teologia, no segundo capitulo o autor defende a imutabilidade do intelectível e sua alcançabilidade somente pelo intelecto e mente. Define também a disciplina como o discurso sobre Deus.
Capítulo 3, matemática, ou ensino que se ocupa da quantidade abstrata ou raciocínio. Neste tópico Hugo também expõe a teoria da degeneração dos corpos do intelectível para o inteligível, sendo o intelectível a “alma pura” que é degenerada pelos sentidos, o que é necessário para se relacionar com os objetos.
Nos capítulos quatro e cinco, o pensador argumenta sobre a progressão da alma e sua relação com os números, em que no quarto passo retorna ao número um (relação com a alma indivisível) e com o número dois (relação com os corpos divisíveis).
Dos capítulos 6 ao capítulo 15, o filósofo trabalhou as definições das diversas divisões da matemática, o que pode se considerar uma proposta de currículo. São as disciplinas propostas: aritmética, música, geometria e astronomia.
No décimo sexto capítulo o tema abordado é a física. Hugo explica que a física pesquisa e investiga causas e efeitos, e efeitos a partir de causas.
Em seguida, abordando a especificidade de cada arte, é destacada a tendência para a filosofia de todas as artes, onde todas possuem um objetivo comum, porém se utilizam de diversos caminhos. A lógica tem como objeto o conceito das coisas. A matemática torna distinta pela razão os dados confusos. A física trata das coisas, enquanto as outras ciências se ocupam do conceito das coisas.
Após especificar cada arte, realiza a divisão da arte teórica em teologia, matemática e física, ou segundo Boécio, intelectivel, inteligível e natural. E na arte prática a divide em solitária, privada e pública, ou em ética, econômica e política.
A filosofia prática solitária é a que acresce virtudes, e não faz nada que deva se arrepender. A filosofia privada é a responsável por distribuir tarefas e ordens moderadamente. E a filosofia prática pública, a responsável pelo bem estar de todos e o equilíbrio da justiça. A solitária é, portanto, dos indivíduos, a privada dos chefes da casa, a politica dos gestores das cidades.
No vigésimo capítulo se realiza a divisão da ciência mecânica, que são sete. Ciência da lã, ciência das armas, navegação, agricultura, caça, medicina e teatro. Destas ciências três são para proteção externa do ser humano e quatro relacionado a proteção interna, onde a natureza se nutre, desenvolve e se cura quando necessário. Tais ciências, chamadas também de imitativas, são realizadas pelo trabalho do artífice e assim são chamadas por tomarem a forma da natureza emprestada. Ou seja, a ciência mecânica é a produtora de todas as coisas não “naturais”.
Após explicação e exemplificação detalhada de cada ciência, no vigésimo oitavo capítulo a lógica é abordada como a quarta parte da filosofia. A lógica se subdivide em gramática e teoria da argumentação. A gramática não seria parte da filosofia, mas uma ferramenta para ela. Já a teoria da argumentação, trata das palavras em nível de conceitos.
As divisões da teoria da argumentação se dão como invenção e juízo (partes integrais), a demonstração, o raciocínio provável e a sofística (como divisíveis).
A demonstração é o argumento comprobatório que pertence ao filósofo. A argumentação provável se divide em dialética e retórica e possuem como partes integrais a invenção e o juízo. A invenção ensina a encontrar os argumentos, enquanto o juízo ensina a julgar sobre os argumentos.
Portanto, a gramática é a ciência do falar sem erro. A dialética trata da disputa sobre o verdadeiro e o falso. Já a retórica é a disciplina para persuadir sobre tudo que for conveniente.
No terceiro livro de Da arte de ler o autor inicia os dois primeiros capítulos explanando sobre a ordem e o método de leitura e estudo. Explica as quatro partes da filosofia e suas subdivisões. Indica ainda os autores de cada arte que devem ser lidos.
Após a explanação inicial são indicados quais artes devem ser lidas principalmente, sendo elas da ordem de sete. Ou seja, como chamavam os antigos, o trívio e o quadrívio. Pois é por meio destas artes que o espírito vivo penetra nos segredos da sabedoria, e ninguém poderia ser considerado mestre sem este conhecimento.
Para leitura e estudo destas artes os alunos devem saber manter um método adequado de aprendizagem, contudo muitos não querem manter um método, o que faz existirem muitos estudantes e poucos sábios. O estudante deve tomar cuidado também para não gastar energia em conhecimentos inúteis e ficar desinteressado em conhecimentos bons e úteis.
No quarto capítulo são diferenciados os dois tipos de escritos. As artes e os complementos das artes. As artes são aquelas que estão subordinadas à filosofia. O complemento das artes são escritos que apenas se relacionam com a filosofia em alguns pontos.
O fundamento de todo saber está nas sete artes liberais, sem exceção, pois todas estão conexas entre si, e ao faltar com uma não seria possível chegar ao conhecimento verdadeiro.
O autor destaca a importância do estudo das artes, contudo não abandona a importância dos seus complementos. Pois por meio deles, as vezes, é mais fácil o estudo e a memorização.
Em seguida é explicada a importância de atribuir corretamente a função de cada arte e não misturar os seus conteúdos. Deve-se distinguir como deve ser tratada determinada ciência e como os fundamentos desta ciência podem ser adaptados a outros campos.
Em relação ao ensino de cada ciência, deve ser tudo resumido sinteticamente e exposto de maneira fácil. Ao estudar, deve-se buscar fazê-lo do simples ao complexo de maneira que “não se multiplique atalhos antes de ter conhecido as estradas”.
No capítulo seis é explicado o que é necessário ao estudo. Sendo divido em três partes: Qualidades naturais, ou seja, entender facilmente o ensino proposto e ter capacidade de memorização. Exercício, educar as qualidades naturais mediante o trabalho e a persistência. E disciplina para harmonizar a conduta com o saber.
Ao abordar o engenho natural, no sétimo capítulo, o autor destaca que o mesmo nasce da natureza, melhora com o uso e se idiotiza com o trabalho desmedido. O exercício do engenho se dá de duas maneiras: leitura e meditação. Na leitura deve-se ter máxima consideração com a ordem e o método. A ordem da leitura depende da disciplina estudada. E o modo de ler deve começar pelo que é mais conhecido, determinada e abrangente.
A meditação é um pensar frequente com discernimento que investiga prudentemente a causa e a origem, o gênero e a utilidade de cada coisa. Há três tipos de meditação, a que consiste no exame da conduta, a que consiste no conhecimento minucioso dos mandamentos, e a que investiga as obras divinas.
No capítulo 11 a memória é abordada com a função de guardar as informações estudadas. Os estudos devem ser resumidos e confiados à memória. Estes estudos devem ser periodicamente revisados para que não desapareça ao longo do tempo.
Ao abordar a disciplina moral, a humildade tem função fundamental, e três ensinamentos interessam ao estudante: não reputar como de pouco valor nenhuma ciência e nenhum escrito. Não ter vergonha de aprender com qualquer um, e não desprezar os outros depois de ter alcançado o saber.
Outro tema importante, destacado no capítulo quatorze, é a dedicação à pesquisa. Esta pertence ao campo da pesquisa e nisso os estudantes precisam mais de incentivo do que de ensinamentos. Para chegar à sabedoria é necessário diligencia, pois a mesma só vem com o tempo.
Para finalizar o livro, o filósofo medieval indica quatro conselhos: a quietação, para que não se perca em desejos ilícitos. A análise minuciosa, ou seja, aplicação a meditação. A sobriedade, para não ir ao encalço de coisas supérfluas. E o exílio, pois o mundo é um exílio para quem faz filosofia.
No quinto Livro de Da arte de Ler, o mestre Hugo, aborda as questões relativas a leitura e estudo das sagradas escrituras. Inicia mostrando os três tipos de interpretar as escrituras: Histórico, alegórico e moral. Em seguida ressalta o cuidado ao se fazer a interpretação, pois tudo tem significado na leitura do livro bíblico.
As sete regras utilizadas pelas locuções das escrituras. 1. Relação do Senhor e o seu corpo. 2. O corpo verdadeiro e o corpo misto do Senhor. 3. A letra e o espírito, isto é, a lei da graça. 4. A espécie e o gênero pela qual a parte é tomada pelo todo e o todo pela parte. 5. Sobre o tempo, pelo qual uma parte grandíssima de tempo é indicada por uma parte menor, ou através de uma parte mínima de tempo se estende uma parte maior. 6. Recapitulação, quando a escritura retorna para aquilo que já passou. 7. O diabo e seu corpo, pelo qual frequentemente se dizem da cabeça coisas que convêm mais ao seu corpo.
Sobre a ordem e o modo da leitura. O estudante deve ser instruído primeiro àquilo que deve evitar e depois sobre o que deve ser feito. A aplicação e o método da aplicação são conexos entre si, que uma sem a outra é pouco eficiente. De tal forma que aquele que trabalha sem método, trabalho muito, mas não avança.
É importante ressaltar também que três coisas principais opõem-se aos estudos: A negligencia, a imprudência e a má sorte.
Ao tratar sobre o fruto da leitura divina são elencados dois principais. Instruir a mente com o conhecimento e a adornar com bons costumes. A leitura também pode ser utilizada para corrigir os costumes, seja pelo exemplo dos santos ou pelo conhecimento das doutrinas.
Deve saber também que, além disso, a leitura costuma criar aborrecimento e afligir ao espirito de duas formas, (1) pela qualidade e (2) pela quantidade, se for muito prolixa. O autor exorta ainda que não se deve querer ler todos os livros, pois eles são infinitos.
No nono capítulo são elencados cinco degraus para a vida dos justos. Leitura, meditação, oração, prática e contemplação. O primeiro degrau dá o entendimento, o segundo engendra o discernimento. A oração pede e o quarto, a prática, procura. O quinto degrau, encontra.
Os três tipos de leitores das sagradas escrituras abordados no décimo capítulo, referem-se aos que desejam riquezas, aos que desejam conhecer e os que desejam ensinar e buscar a verdade. Os primeiros merecem ser compadecidos, os segundos ajudados e os terceiros louvados.
No último livro de Da arte de ler, é indicado como a escritura sagrada deve ser lida para os que procuram o saber. Inicialmente, são recomendados novamente, a ordem e o método de estudo.
A ordem se dá em quatro âmbitos: disciplina, outra nos livros, na narração e na exposição. E é preciso seguir da base ao telhado, sendo a primeira a história. Primeiro de tudo é necessário aprender a verdade dos fatos. Ao se estudar o fato histórico deve-se buscar o que foi feito, quando foi feito, onde foi feito e por quais pessoas foi feito.
Esta ordem é estabelecida, pois o fundamento e o principio da ciência sagrada é a história, da qual deriva a verdade da alegoria. Ou seja, determinados conhecimentos são importantes, são “base” para outros conhecimentos mais necessários.
Ao abordar o estudo da alegoria, o autor exorta sobre a necessidade de uma mente madura para entender as alegorias bíblicas. O conhecimento histórico é a base do edifício, a alegoria são suas paredes, e estas se dão em diversos planos, a saber: o mistério da trindade, as coisas visíveis e invisíveis, origem do pecado, sacramentos na origem sob a lei natural, escritos da lei natural, encarnação do verbo, sacramento do novo testamento e mistério da ressurreição.
Ao estudar os planos alegóricos é necessário cuidado para os conhecimentos que ainda o estudante não está preparado. Se não consegue penetrar no entendimento, deve passar a frente, para que, presumindo esforçar-se naquilo para o qual não está preparado, não incorra no perigo do erro.
Para interpretar com segurança, é necessário não ter a presunção de instruir-se sozinho. A introdução deve ser feita pelos doutores e sábios.
Quanto a ordem de leitura é importante observar que são diferentes conforme o tipo de estudo. A ordem da leitura história e alegórica são diferentes. Pois uma segue a ordem do tempo, a outra do conhecimento. Quanto a ordem da narração, a mesma não é contínua na ordem dos fatos, pois prepõe coisas posteriores às anteriores, como quando o discurso, após ter contado alguns fatos, volta de improviso a fatos anteriores, como se narrasse os seguintes.
Na ordem da exposição do texto são encontrados 3 elementos: a letra, o significado e o pensamento.
A letra significa aquilo que se diz, e é perfeita quando não é necessário acrescentar ou diminuir nada fora daquilo que é expresso. O significado do texto sagrado pode ser coerente ou incoerente. Porém o texto espiritual não pode ser entendido somente pela letra quando se mostra incoerente. O pensamento divino nunca é absurdo, nunca pode ser falso, mas enquanto significação o pensamento não admite contradição, é sempre coerente e verdadeiro.
Quanto ao modo de ler, ele se divide em dois. Separação e investigação. Separa-se quando as coisas são confusas. Investiga-se quando as coisas são obscuras.
Para finalizar Hugo de São Vitor indica que não irá abordar a meditação, que seria a última parte da educação, porque o assunto merece um tratamento especial.
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