Por dentro do Discurso do Método de Rene Descartes
Nascido
na cidade de La Haye em 31 de março de 1956, René Descartes, perde sua mãe com
aproximadamente um ano de idade e foi criado por sua avó (COTTINGHAM, 1995). Com dez anos ingressou no colégio
jesuíta La Flèche, onde permaneceu até seus quatorze anos de idade. Na
juventude conheceu, o matemático e físico, Isaak
Beeckman, que o influenciou nos estudos matemáticos (COTTINGHAM,
1995).
No ano de 1616 recebeu o bacharelado e a licenciatura em direito pela
Universidade de Poitiers. Desde então e até 1628, viajou frequentemente pela
Alemanha, Itália, Holanda e França, por algum tempo servindo como soldado no exército
protestante e depois no exército católico da Bavária (COLLINSON,
2011).
Em 1649 o filósofo aceitou o convite
da rainha da Suécia e deixou a Holanda, onde estava desde 28. Residindo em
Estocolmo há poucos meses, morreu no dia 2 de fevereiro de 1650, aos 53 anos (DESCARTES,
1996).
Em
1637, então com 41 anos, Descartes publicou a obra “O discurso do método”,
objeto de nossa reflexão. O pensador francês dividiu a obra em seis partes e é
importante notar que teve nela a intenção de uma obra narrativa, e não
didática. O discurso é uma história que busca mostrar como o filósofo conduziu
sua própria razão na busca pela verdade.
Na
primeira parte do texto o autor aborda questões sobre sua educação e como foi
“alimentado” pelas letras desde a infância (DESCARTES, 1996). Faz menções sobre
as disciplinas que estudou e sobre os livros que teve a oportunidade de ler.
Sobre todos estes temas proferiu algumas críticas e como decidiu abandonar
estes estudos para buscar o conhecimento no “livro do mundo” viajando e
conhecendo pessoas.
Sua
intenção era apresentar o método por ele criado. Método este que conduziria a
razão do indivíduo até a verdade, porém o autor deixa claro que não tem como
pretensão ensinar o método que cada indivíduo deveria seguir (DESCARTES,
1996).
Sua intenção é apresentar o caminho que percorreu conduzindo sua própria alma.
Na
segunda parte da obra, busca fundamentar o caminho que será utilizado para
distinguir entre o verdadeiro e o falso. Argumenta que os edifícios empreendidos
e concluídos por apenas um arquiteto são mais belos e melhores (DESCARTES,
1996),
ou seja, o verdadeiro está mais próximo do raciocínio de um homem de bom senso
do que da ciência, que reúne múltiplas opiniões de diversas pessoas. Descartes
acredita que enquanto crianças, nem sempre recebemos os melhores
aconselhamentos e por isso nossos juízos não são tão fortes e puros como se
tivéssemos utilizado a razão desde o nascimento (DESCARTES,
1996).
Deste
modo, é necessário suprimir as opiniões até então aceitas e substituí-las
depois por outras melhores, ou pelas mesmas se estas forem corretas. Para
fundamentar o próprio juízo na busca pelo raciocínio correto, o filósofo cria
os quatro princípios:
1°:
Não aceitar coisa alguma como verdadeira sem a conhecer evidentemente como tal,
e não incluir no juízo nada que não seja claro e distinto ao espírito de tal
forma que não se possa duvidar (DESCARTES, 1996).
2°:
dividir cada uma das dificuldades que examinar em tantas parcelas quanto
possíveis e necessárias para resolvê-las (DESCARTES, 1996).
3°:
Ordenar os pensamentos, começando pelos objetos mais simples e fáceis de
conhecer, e evoluir pouco a pouco até os conhecimentos mais compostos (DESCARTES,
1996).
4°:
fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais que tenha a
certeza de nada omitir (DESCARTES, 1996).
Com
estes princípios o pensador demonstra seu ceticismo em relação a tudo que lhe
foi ensinado, rejeita todas as opiniões para depois reassumi-las após
analisadas sob seu método.
A
terceira parte apresenta o código moral provisório elaborado pelo filósofo. Retirando
velhas crenças e opiniões ultrapassadas, estas máximas são divididas em quatro
proposições:
·
Obedecer às leis e os costumes do país,
conservando a religião na qual foi instruído desde a infância. Governar a si pelas
opiniões moderadas e afastar das mais excessivas (DESCARTES,
1996).
·
Ser o mais firme e resoluto nas ações, e não
seguir menos convicto as opiniões duvidosas uma vez que as tivesse determinado (DESCARTES,
1996).
·
Procurar sempre antes vencer a mim próprio do
que à fortuna, e de antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo; e,
em geral, a de acostumar-me a crer que nada há que esteja inteiramente em nosso
poder , exceto os nossos pensamentos (DESCARTES, 1996).
·
Passar em revista as diversas ocupações que
os homens exercem nesta vida, para procurar escolher a melhor (DESCARTES,
1996).
Para
discernir entre o verdadeiro e o falso, na quarta parte, Descartes rejeita tudo
aquilo em que pudesse ter a menor dúvida, após isso, então, nada restaria que
fosse indubitável (DESCARTES, 1996). Usando a razão para
compreender o mundo, os sentidos são questionados, pois eles podem ser
ilusórios. Assim a certeza encontra-se apenas que, se estou pensando, eu
existo. Em outras palavras, penso, logo existo (DESCARTES,
1996).
Neste texto, aborda também a relação da alma com o corpo, afirmando que a alma
é distinta do corpo e que ela é mais fácil de conhecer do que ele, e ainda que
se o corpo nada fosse, a alma não deixaria de ser tudo que é (DESCARTES,
1996).
Na
quinta parte do seu texto, ele utiliza do método por ele criado descrever desde
os corpos inanimados até o homem. Levanta a possibilidade de que no início os
seres humanos não possuíam almas assim como os animais (DESCARTES,
1996),
e reitera a separação da alma em relação ao corpo.
Em
sua conclusão, na sexta parte, Descartes finaliza com uma síntese do trajeto
percorrido. No início buscou encontrar os princípios gerais de tudo que existe
no mundo, sem nada considerar, senão somente a Deus (DESCARTES,
1996).
Examinou
os efeitos que se podem deduzir dessas causas, e encontrou céus, astros, uma
terra, entre outras coisas que são as mais comuns de todas e as mais simples,
portanto as mais fáceis de conhecer. Ao analisar as coisas particulares,
concluiu serem tão diversas que não é possível ao espírito humano distinguir as
forma e espécies de corpos sobre a terra (DESCARTES, 1996).
Assim,
a obra Discurso do Método abriu caminho para outras publicações de Descartes,
mudou conceitos filosóficos distinguindo o corpo da alma, e apresentou os
princípios do método cartesiano, contribuindo significativamente para a fundamentação
científica moderna e posterior.
REFERÊNCIA
COLLINSON, D. 50 grandes filósofos. 3ª. ed. São Paulo: Contexto,
2011.
COTTINGHAM,
J. Dicionário de Descartes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
DESCARTES,
R. Discurso do Método. 2ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
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